Rita de Cássia Fucci Amato∗
João Amato Neto∗∗

RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar a prática da regência coral, a partir dos conceitos de organização do trabalho e gestão de competências. Os principais aspectos discutidos nesse estudo são: a criatividade, dimensões e níveis do trabalho em corais; competências, habilidades e a formação do regente coral; motivação; liderança; solução de problemas e gestão de recursos humanos. A abordagem metodológica é baseada em uma revisão bibliográfica de caráter exploratório, relacionando a literatura à prática da regência coral. Assim, este estudo visa-se fornecer subsídios para a atuação dos regentes e para a melhora na
compreensão e no desenvolvimento das atividades de direção e organização junto aos grupos vocais.
Pode-se concluir que a compreensão e aplicação de todos esses conceitos são capazes de provocar uma proeminente melhoria na qualidade das atividades desenvolvidas pelos corais.

PALAVRAS-CHAVE: regência coral; gestão de recursos humanos; organização do trabalho; gestão de competências; liderança; motivação.

INTRODUÇÃO
O coro é uma organização com fins diversos, desde a busca por motivação pessoal,
educação musical e oportunidades de lazer até a apresentação de uma mensagem ou de um
repertório, e a divulgação de uma instituição. Na sua mais abrangente concepção, a
formação e a atuação de regentes corais deve abarcar os princípios musicais, organizacionais e administrativos para o entendimento do coro em suas diversas facetas, contendo conhecimentos de diversas áreas. Desse modo, o estudo de técnicas de organização do trabalho e gestão de competências/ recursos humanos de um grupo vocal permite, a partir de sua aplicação, o desenvolvimento de relações interpessoais mais agradáveis dentro do grupo e, conseqüentemente, de uma maior eficácia nas atividades do conjunto.
Corroborando com a afirmação de Lüdke e André (1986), de que a investigação de uma
problemática surge em uma ocasião singular, onde o pensamento e a ação do pesquisador
se conjugam no esforço de compor o conhecimento de aspectos reais que poderão ser
Doutora e mestra em Educação (UFSCar), especialista em Fonoaudiologia (UNIFESP) e maestrina (UNICAMP).
Professora da Faculdade de Música Carlos Gomes. E-mail: fucciamato@terra.com.br
Professor titular do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), professor e consultor da Fundação Vanzolini. E-mail: amato@usp.br
futuramente utilizados na solução de questões cotidianas, essa pesquisa constitui-se em uma busca por oferecer aos regentes corais uma melhor percepção das relações presentes em seu grupo, gerando subsídios e propostas para a solução de problemas muitas vezes presentes no trabalho com um coro.
Dessa forma, busca-se fornecer uma visão exploratória do tema investigado, relacionando os conceitos de motivação, liderança, organização do trabalho e gestão de competências à regência coral.
A utilização desses conceitos justifica-se pelo fato do coro depender essencialmente de seus recursos humanos (coralistas) e desenvolver suas atividades tendo
em vista a concretização de projetos (apresentação de determinado repertório e organização de concertos). Quanto à natureza dos dados e às fontes de informação utilizadas nessa investigação, procura-se manter o caráter qualitativo, a partir de uma revisão de literatura que permita o desenvolvimento dos temas abordados, inter-relacionando-os.

1. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EM CORAIS
O coro constitui-se em significativa ferramenta para o estabelecimento de uma densa rede de configurações sócio-culturais por meio da valorização da participação individual no processo de construção de ideais e objetivos comuns, culminando com a concretização das atividades grupais. Nesse sentido, como um grupo em busca de objetivos comuns, os participantes de um coral dedicam-se ao estudo com afinco e se submetem a uma atividade musical disciplinada, tendo em vista o resultado almejado pelo mesmo, configurando um carisma grupal:
[...] os grupos dominantes com uma elevada superioridade de forças atribuem a si
mesmos, como coletividades, e também àqueles que os integram, como famílias e os
indivíduos, um carisma grupal característico. Todos os que “estão inseridos” neles
participam desse carisma. Porém têm que pagar um preço. A participação na
superioridade de um grupo e em seu carisma grupal singular é, por assim dizer, a
recompensa pela submissão às normas específicas do grupo. Esse preço tem que ser
individualmente pago por cada um de seus membros, através da sujeição de sua
conduta a padrões específicos de controle de afetos. (ELIAS e SCOTSON, 2000, p.26-
7)
Segundo Maximiano (2006, p. 27), as “organizações são grupos sociais deliberadamente
orientados para a realização de objetivos, que, de forma geral, se traduzem no fornecimento de produtos e serviços”. Neste sentido, as pessoas são o principal recurso das organizações, agregadas a outros recursos, quer materiais (instalações, espaço, móveis, equipamentos etc.), quer imateriais (tempo e conhecimentos). Vale ressaltar que todas as organizações podem ser desmembradas em processos. No caso particular da constituição de um coro, os processos são: planejamento, organização, liderança, execução e controle.
No cerne de qualquer organização social encontra-se a necessidade de adquirir
competências, que, no caso específico, são as habilidades gerenciais (adquiridas ou
buriladas por meio de experiências e de estudo). Convém ressaltar que a essência do
trabalho do líder de uma organização é tomar decisões. Os papéis gerenciais que envolvem as decisões são os de: empreendedor, controlador de distúrbios, administrador de recursos e negociador (MAXIMIANO, 2006, p. 40).
No tocante às atividades de regente, essas perspectivas são pertinentes e reais: o
regenteempreendedor atua como ponto de partida da organização de seu grupo e também
como planejador de todas as atividades, devendo incluir melhorias na organização e
identificar as possibilidades e oportunidades para um consistente fortalecimento do grupo;
o regentecontrolador de distúrbios age de maneira pontual nos imprevistos, crises e
conflitos; o regenteadministrador de recursos administra o próprio tempo, programa o
trabalho de monitores e assistentes (quando existem) e, por vezes, autoriza decisões
reivindicadas por outras pessoas; e, finalmente, o regente-negociador atua nas situações para estabelecer contratos ou apresentações com empresas ou indivíduos que não fazem parte da rotina de ensaios e concertos.

2. CRIATIVIDADE, DIMENSÕES E NÍVEIS DE ATUAÇÃO DE UM CORAL
A criatividade também consiste em um aspecto de fundamental importância nas
organizações e, mais ainda, nos corais, onde a motivação do grupo também está ligada à realização pessoal dos coralistas, por meio do fomento de sua criatividade e da criação de um ambiente propício a esse desenvolvimento, fatores considerados essenciais para o desenvolvimento processo criativo (WECHSLER, 1993). Para De Masi (2003, p. 677-678):
“Um grupo criativo baseia a sua fecundidade na competência e na motivação dos seus
membros, na liderança carismática capaz de indicar e fazer compartilhar uma missão
inovadora num clima solidário e entusiasta”. A criatividade, portanto, constitui-se como uma habilidade a ser trabalhada em toda e qualquer organização social, sendo um fator de grande relevância para a gestão de recursos humanos.
Segundo Mathias (1986, p. 15), um coral pode ser entendido em várias dimensões:

• Dimensão psicológica: determinada pelo trinômio emoção (resultado da
sensibilização), vontade (motivação interior que leva à superação de obstáculos
individuais e grupais) e razão (constituída pela análise e seleção de elementos
harmônicos que compõem a força interior).

• Dimensão política: determinada pela necessidade de organização do grupo, com a
definição das funções de cada elemento, de meios para seu desenvolvimento e de
objetivos que visem o bem comum.

• Dimensão mística: determinada pela vivência “da unidade, harmonia, beleza,
imanentes ao mais profundo de cada um de nós conduzirá naturalmente à vivência
da Unidade, Harmonia, Beleza que transcendem o nosso espaço interior”.
Vale ressaltar que essas dimensões encontram-se compartilhadas entre os diversos níveis de ação do coral. Assim, tais dimensões podem agir em nível político, social, comunitário, grupal e pessoal, gerando desde oportunidades de inclusão social e integração em dadas comunidades até a realização dos objetivos musicais do grupo e a motivação e aumento da qualidade de vida de cada indivíduo.

Tais níveis de ação de um coro podem ser visualizados por meio da figura a seguir, que propõe a representação da ação gradativa produzida pelo coral, desde o nível micro (pessoal) até o macro (político).

3. COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E A FORMAÇÃO DO REGENTE
O termo competência pode ser entendido como um conjunto de conhecimentos, habilidades
e atitudes para que um indivíduo desempenhe diversas atividades e pode ser estimulado por meio da educação formal e informal, da experiência profissional e da rede de configurações sócioculturais a qual pertence. Maximiniano (2006) classifica quatro categorias principais referentes às competências: intelectuais, interpessoais, técnicas e intrapessoais. As competências intelectuais estão presentes na elaboração de conceitos, análises, planejamentos e também na definição de estratégias e na tomada de decisões. Duas competências intelectuais específicas são a habilidade de pensar racionalmente (análise da realidade) e a habilidade conceitual (pensamento abstrato: intuição, imaginação e criatividade). As competências ligadas à liderança de um grupo e suas interfaces no contato
com outras pessoas fazem parte das competências interpessoais (compreensão da
singularidade e diversidade dos indivíduos, do processo de motivação, dos princípios de liderança e de comunicação).
A educação formal e a práxis profissional são as duas grandes vertentes pertencentes às competências técnicas. No tocante às competências intrapessoais encontram-se diversas habilidades, tais como: autoconhecimento, automotivação, auto-análise, autocontrole:

•Entendimento do próprio cargo, de seus requisitos e seu impacto sobre a organização.
•Capacidade de compreender, analisar e controlar o próprio comportamento, em particular as emoções.
•Capacidade de compreender e analisar o comportamento alheio, em particular as emoções alheias.
•Capacidade de aprender com a própria experiência e com a experiência alheia.
•Capacidade de analisar, compreender e desenvolver as próprias potencialidades e superar as próprias vulnerabilidades. (MAXIMIANO, 2006, p. 42)

Todas estas elaborações podem ser discutidas em relação à formação do regente, que
consiste na apropriada conjugação entre as habilidades naturais e conquistadas. Enquanto as habilidades naturais relacionam-se com a formação do indivíduo no seu ambiente familiar e com sua posição socioeconômica, as qualificações adquiridas “são resultado de aprendizado por estudo. Exigem esforço, são racionais, geralmente lógicas e justificáveis através da prática” (OLIVEIRA e OLIVEIRA, 2005).
Segundo Rocha (2004), os principais patrimônios próprios essenciais à regência são a
liderança, o talento musical e a aptidão física. Por outro lado, os patrimônios adquiridos indispensáveis ao regente constituem-se na formação musical, na formação intelectual (que inclui conceitos administrativos, psicológicos, políticos, pedagógicos, filosóficos e outros) e na formação física, fruto de hábitos saudáveis e práticas esportivas periódicas.
Na concepção de Zander (2003, p. 29): “Além de conhecer a tradição da prática coral, a autenticidade na interpretação de seus diferentes estilos, é preciso, sem juízo destes, fazer com que eles sejam não só válidos historicamente, mas também vivos em nossa atualidade”.
Os conhecimentos musicais indispensáveis à direção de corais, conjugados a uma série de habilidades e competências referentes não somente ao preparo técnico musical, mas
também à gestão e condução de um conjunto de pessoas que buscam motivação,
aprendizagem e convivência em um grupo social, permite uma abordagem dos diversos
aspectos do grupo, concretizando a aprendizagem musical, o desenvolvimento vocal, a
integração e a inclusão social (FUCCI AMATO, 2005). O papel que um regente tem na
condução de seu grupo musical envolve capacidade de liderar o grupo e motivar cada um
de seus componentes, levando-os a uma vivência musical realmente proveitosa do ponto de vista pessoal e comunitário.

4. MOTIVAÇÃO
A motivação é um processo contínuo em que fatores de diversas naturezas atuam no
indivíduo, a partir da concretização de seus desejos. Para Maslow (apud MAXIMIANO,
2006), a motivação ocorre a partir do cumprimento das necessidades (básicas, de
segurança, de participação, de estima e de auto-realização) do indivíduo, como mostra a figura a seguir.
A partir da análise do esquema acima, podemos incluir o canto coral em um cenário de
qualidade de vida e equilíbrio social. Assim, após o cumprimento das necessidades básicas e de segurança de dada população, a participação em atividades que promovam o aumento da autoestima e do senso de auto-realização constitui significativo aspecto da formação do indivíduo. Nessa perspectiva, o canto coral pode auxiliar a pessoa no seu crescimento pessoal e, a partir de então, em sua motivação.
Cabe lembrar que a motivação é uma conseqüência da liderança que o regente deve exercer sobre seu grupo. Essa liderança pode ser traduzida em bases de autoridade, que podem ser aplicadas ao regente coral em três níveis (MAXIMIANO, 2006): carisma, autoridade técnica (competência musical e educacional do regente) e autoridade política (condução do grupo com o estabelecimento de metas e bom nível de relacionamento do regente com o coro). Na concepção original, as bases da autoridade são: tradição (costumes), carisma (a pessoa), autoridade formal (organização), competência técnica (perícia) e política (relações interpessoais), conforme Maximiano (2006). Porém, acredita-se que a tradição e a autoridade formal são características mais específicas das organizações, sendo pouco aplicáveis ao coro.

Assim, há a necessidade de que os regentes assumam o papel de facilitadores do trabalho da equipe que coordenam, incentivando o aparecimento de novos talentos, administrando de forma contundente os conflitos que possam aparecer durante a execução do trabalho e acima de tudo, preocupando-se em motivar realmente cada um dos integrantes desta equipe (AGUIAR, ESCRIVÃO FILHO e ROZENFELD, 1998, p. 2)
Outra concepção que cabe destacar é a de Herzberg (apud MAXIMIANO, 2006). Segundo
esse autor, há basicamente duas categorias de fatores determinantes da motivação humana em uma organização de trabalho: a primeira, chamada de “fatores extrínsecos ou
higiênicos”, referese aos aspectos: salário condizente com a tarefa e a função do
profissional, políticas de recursos humanos da organização, estilo de supervisão do
trabalho, relações interpessoais (entre os colegas de trabalho) e as condições ambientais de higiene e segurança do trabalho. A presença de tais fatores na prática gerencial constituiria apenas nas condições básicas para se minimizar o estado de insatisfação dos colaboradores.
Para que houvesse um clima organizacional favorável à consecução dos objetivos da
organização, seria necessário incorporar-se àqueles fatores os chamados “fatores intrínsecos ou motivacionais”. Tais fatores estão intimamente relacionados à natureza do trabalho em si e podem despertar o sentimento de responsabilidade e a percepção de crescimento e de auto-realização do indivíduo.

5. LIDERANÇA, SOLUÇÃO DE PROBLEMAS E GESTÃO DE PESSOAS
Em uma concepção abrangente, a liderança pode ser entendida como um importante
componente para o desenvolvimento de qualquer trabalho envolvido com recursos
humanos, sendo essencial para o desenvolvimento das atividades de um grupo e para a
obtenção dos resultados almejados. O líder tem uma função cada vez mais relevante na
sociedade e na busca por seu desenvolvimento sustentável, já que os grandes líderes
influenciam decisivamente as esferas política, econômica, esportiva e cultural nos mais diversos níveis, desde o local até o mundial (RATTNER, 1999).
Com relação à gestão de recursos humanos, a liderança exerce significativo papel na
organização e condução de grupos de trabalho, conduzindo sua ações e induzindo seu
comportamento (MAXIMIANO, 2006). Essa habilidade é, assim, fundamental para a
condução de um coro, que na maioria das vezes apresenta-se como um grupo bastante
heterogêneo, já que seus integrantes podem possuir diferentes níveis de conhecimento
musical, de formação intelectual, de atuação profissional; assim como podem pertencer a classes sociais distintas e também a diferentes faixas etárias. Com relação à regência coral, sua importância é evidente e tratada por diversos autores como um ponto crucial para a condução do grupo (McELHERAN, 1966; ZANDER, 2003; ROCHA, 2004; OLIVEIRA e OLIVEIRA, 2005).

A gestão de recursos humanos é de fundamental importância para a compreensão da
atuação do líder. Douglas Mc.Gregor (apud CHIAVENATO, 2003), um dos mais famosos
teóricos da chamada “Escola das Relações Humanas”, elaborou uma teoria sobre o
movimento das relações humanas, que pode ser adaptada à concepção que o regente tem a
respeito de seus coralistas e que influencia decisivamente o seu estilo de liderança. A figura a seguir adapta a teoria de Mc.Gregor à regência coral.
As concepções apresentadas são comumente idealizadas pelos regentes corais, que formam seus estilos de liderança a partir das idéias que têm a respeito do coro e de seus componentes. A opção por uma gestão participativa, fundamentada na chamada “Teoria Y” de Mc.Gregor, pode ser entendida com o modelo de gestão dos recursos humanos (coralistas) mais apropriado no sentido de manter em elevados níveis a motivação dos mesmos e, desta forma, viabilizar a obtenção de elevados níveis de performance do coral.

Assim, a liderança pode ser entendida como um processo de gerenciamento de recursos
humanos, fundamentando-se em bases de autoridade, que se estruturam na tradição, no
carisma, na autoridade formal, na competência técnica e nas relações políticas, como
sintetiza a figura a seguir.
A escolha do líder é uma etapa de grande relevância para o grupo, podendo ser autocrática, democrática ou liberal. Esse líder também poderá atuarl de acordo com esses princípios, e assim, gerar resultados diversos no trabalho desenvolvido pelo grupo. Dessa forma, quando o líder é imposto ao grupo, costuma também impor suas idéias (liderança autocrática); quando há a liderança democrática, o grupo escolhe seu líder e toma decisões de comum acordo; já quando o grupo não possui líder e toma decisões por “consenso”, há a liderança liberal, ou ausência de liderança (MAXIMIANO, 2004, p. 276).
Assim, a atuação do regente também pode classificar-se de acordo com as atitudes de
liderança por ele tomadas, como sintetiza o quadro a seguir.
A partir da análise do quadro acima, pode-se concluir que, enquanto o regente autoritário aparentemente busca a sua realização, impondo objetivos ao coro e não permitindo sugestões no processo de produção artística, o regente inovador busca, mantendo a organização do grupo, ouvir as idéias de seus integrantes e integrar o grupo sem fazer uso excessivo de sua autoridade. A liderança apresenta-se assim em uma visão bidimensional, apresentando ênfase nas pessoas (recursos humanos) ou nas tarefas (produtos), como expõe Maximiano (2004).
Bergamini (1994, p. 179), todavia, ressalta que: Já é fora de dúvida que diferentes estilos de liderança acham-se enraizados e, portanto, nascem das diferenças individuais de personalidade. Sabe-se que essa maneira de ser faz parte integrante da personalidade de cada um, incluindo não somente as características intelectuais como também as emocionais, as experiências vividas, as expectativas e motivações. Embora não se tenha certeza de que sejam conhecidas todas as variáveis intrínsecas e extrínsecas capazes de determinar esta ou aquela orientação comportamental, pode-se, isto sim, observar o comportamento aparente dos diferentes líderes.

Um outro aspecto de grande relevância na atuação de um líder é a liderança situacional.
Esse conceito postula que diferentes situações exigem formas diversas de atuação, em que o líder utiliza vários tipos de conhecimento e de características distintas (BERGAMINI, 1988). Para Rocha (2004), a resolução de problemas em um coro pode ser resumida em três etapas, segundo essa abordagem:

• Reconhecimento do conflito e de suas fontes: o regente deve avaliar se o conflito
está sendo provocado pelo inchamento de egos, por diferenças na qualidade e na
produtividade musical entre indivíduos ou por boatos e fofocas.

• Reflexão, definição e aplicação de soluções para os conflitos: o regente deve
procurar nivelar os indivíduos e seus níveis de produção e, utilizando-se de sua
habilidade de comunicação, esclarecer os boatos, fornecendo informações
completas sobre o fato.

• Ação preventiva: o regente deve desenvolver forte atividade de comunicação com o
grupo, empreendendo pesquisas sobre o grau de satisfação dos coralistas e buscando
realizar uma gestão participativa dos processos na qual prevaleça o consenso.

A liderança situacional, ao lidar com aspectos sensíveis como a resolução de problemas pessoais dentro do grupo, apresenta estilos de gerenciamento e solução de problemas apropriados aos diversos níveis de maturidade dos liderados (coralistas).
Pode-se então concluir que a efetivação do processo liderologista (formação de lideranças)

pode acontecer no coral por meio das seguintes ações: definição das responsabilidades de cada um; determinação dos níveis de autoridade de acordo com as responsabilidades; estabelecimento de padrões de excelência; educação musical e vocal que satisfaça aos objetivos delimitados; informação e avaliação contínua sobre o desempenho de cada coralista e do grupo; reconhecimento dos trabalhos desenvolvidos e das realizações; confiança entre os membros do grupo; permissão para o erro e motivação para o acerto; tratamento das pessoas com dignidade e respeito.
Para Rocha (2004), o regente também deve possuir outras habilidades para liderar o coro e seus integrantes, tais como a autoridade pessoal, o autodomínio, a clareza de objetivos e de expressão do pensamento, a capacidade de planejamento, empatia e capacidade de mobilização e poder de argumentação. A inteligência emocional também se insere nessa perspectiva, tendo papel fundamental na execução dos projetos do grupo, na medida em que desenvolve o controle das emoções por parte do regente e dos coralistas – melhorando as relações interpessoais e minimizando a ocorrência de conflitos no coro – e permite que os sentimentos individuais sejam canalizados para o cumprimento das metas do grupo (GOLEMAN, 1995). Cabe ressaltar que as habilidades têm diferentes níveis de relevância em função das fases do projeto. No âmbito coral, a preparação de um concerto, por exemplo, apresenta diferentes etapas e, em cada uma destas, determinadas habilidades são requeridas em maior ou menor proporção. O desenvolvimento dessas habilidades pelo regente coral proporcionará, decerto, uma grande melhoria nas atividades de seu grupo e desenvolverá novas relações interpessoais entre seus componentes, resultando em um aumento da qualidade da sua produção musical.

Concluindo-se, a partir da liderança do regente, os coralistas passam a se automotivar. Nas palavras de Bergamini (1994, p.195):
Passa-se, então, a supor que cada um tenha dentro de si recursos pessoais que lhe
permitem manter o seu tônus motivacional bem como gerir-se a si mesmo de maneira a
não permitir que nenhum desvio administrativo venha a drenar esse reduto importante
de forças produtivas. A pessoa intrinsecamente motivada se autolidera sem necessidade
que algo fora dela a dirija. Seria possível, então, afirmar que estando intrinsecamente motivada, a pessoa seja o líder de si mesma.

CONCLUSÕES
O regente de um coral, no papel de liderança de um grupo social e de condução de um
trabalho artístico que envolve um grupo diversificado como um coral, deve ter a capacidade de estabelecer critérios, motivar cada um de seus liderados (coralistas) e levá-los a uma meta estabelecida. A partir desse processo, pode-se gerar e difundir conhecimentos musicais e vocais, estimulando o aumento da qualidade de vida dentro de uma organização ou comunidade e buscando um crescimento gradativo e constante do conjunto, tanto em nível musical e artístico, quanto em nível social.
A compreensão dos diversos níveis de ação de um coro e o estabelecimento de metas e
papéis no processo de criação e (re)produção artística são também imprescindíveis para a eficiência do grupo. Cabe ressaltar que tal processo somente pode ser concretizado a partir da união do conjunto em torno de objetivos comuns, exigindo, assim, a atuação do regente como um líder que, ao conjugar sua autoridade a um processo de gestão participativa, obtém os resultados almejados junto aos seus liderados, para os quais a motivação constitui o elemento-chave para a geração de interesse e compromisso com a atividade praticada.
A partir desse trabalho, visualizou-se que a capacidade de organização do trabalho e gestão de competências dentro da atividade coral, dentre outros aspectos abordados, consistem em habilidades a serem desenvolvidas pelos regentes, tendo em vista que o coro, como uma organização, envolve uma densa rede de relações interpessoais, que deve ser construída por uma política dinâmica e participativa.

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